domingo, 16 de dezembro de 2007

"Isso é uma virose que aí anda..."

Foi talvez a explicação mais “científica” que ouvi daquilo que me afectou subitamente a saúde na noite de quinta para sexta-feira e de que ainda recupero. Outra também aparentemente muito válida foi a de que “Isso é um vírus que anda aí e não sei bem por que via entra no sistema”, tendo esta me deixado, por um curto instante, a pensar meio baralhado: “então mas eu tenho os updates automáticos do Norton e mais a firewall como é que me entra assim um vírus...?...ah não, espera, isto é no outro sistema não é nesse…”. Depois desta breve confusão entre o sistema informático e “o outro”, típica de um homem do nosso tempo, apercebi-me da ironia de ser mais hipocondríaco no que toca a saúde do meu computador do que com “o outro sistema”. E por falar em “sistema”, e resignando-me ao facto de me ver obrigado a repetir a mesma palavra inúmeras vezes no mesmo texto, foi o sistema digestivo que sofreu os efeitos súbitos e violentos deste vírus que alegadamente (e de acordo com várias fontes incluindo a linha Saúde 24) anda a espalhar o caos em todos os intestinos e estômagos que visita pelo seu caminho e que eu, por azar, também apanhei (embora “apanhar” remeta para uma acção voluntária eu posso jurar que foi sem intenção!) .
Isto de se falar de vez em quando na “virose que anda por aí” parece-me que tem qualquer coisa de misticismo mascarado de linguagem médica. De cada vez que aparece uma epidemia de sintomas comuns e ninguém sabe bem do que se trata lá vem a conversa da virose, e depois não há qualquer esclarecimento e ficamos todos na mesma, “foi a virose…”…
Os sintomas, ainda que mais intensos e agudos que o habitual, são os facilmente imagináveis neste tipo de situação e, como tal, não merecem destaque… À excepção talvez de um, verdadeiramente inédito e invulgar e que por isso importa referir. Foi um sintoma súbito, incontrolável e de uma só ocorrência, de carácter assumidamente estético! Foi um ímpeto irresistível para a criação artística, uma propensão imediata fortíssima para a arte plástica que me levou a escolher como tela a minha colorida passadeira ikeana e a projectar com toda a força e em todo o seu comprimento, ao melhor estilo pollockiano, uma figura abstracta, livre, disforme, espontânea, aleatória, involuntária... num inspirado impulso de origem gástrica entusiasticamente concretizado.

No fim, salvou-se a passadeira, perdeu-se a obra de arte…

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande cena, hehehehehe, não vás ao mérdico não!

Carlos Colaço disse...

(Em virtude dos reparos de alguns utentes do blog, os comentários com linguagem e/ou pseudónimos mais, vá lá, ordinários, foram removidos por uma questão respeito para com a susceptibilidade de todos. agradeço a compreensão dos visados e recomendo o uso da profícua imaginação na invenção de pseudónimos em outros tão originais como os anteriores mas apropriados para todas as audiências. Não se trata no entanto de censura total e haverá sempre uma tolerância considerável como se pode constatar pela permanência do comentário anterior perfeitamente adequado e até criativo)